Sobre o apego seguro e inseguro nos casais, de acordo com as autoras, Semensato e Bosa (2013) apud Fisher e Cradell (2001) compreende-se que:
[...] os principais indicadores de apego seguro de um casal são a habilidade de trocar a posição de dependência e a empatia com os sentimentos do(a) parceiro(a). Há uma tendência nesses casais para a expressão aberta da necessidade de conforto e de contato e maior facilidade de receber o contato. No apego inseguro do casal, os principais indicadores são a falta de flexibilidade, de mutualidade e de bidirecionalidade reversível. Esses casais tendem a apresentar assimetria e rigidez no relacionamento, com pouco movimento dos parceiros de uma posição à outra, e dão pouca atenção à natureza da experiência do outro.
Nesse sentido, Carter e Mcgoldrick (1995) discorrem que um dilema que ocorre nos relacionamentos é a confusão da intimidade com a fusão, pois, há uma diferença entre instituir um relacionamento íntimo com uma outra pessoa separada e usar um relacionamento de casal para completar o eu e melhorar a autoestima.
As autoras continuam narrando que os homens, em geral, expressam sua fusão mantendo uma posição pseudodiferenciada, e as mulheres, por sua vez, mantem sua pseudointimidade, desistindo de si mesmas, ou seja, o grau de fusão determina o grau de interdependência do casal, nesse sentido o grau de fusão dos homens se mantém com um nível de individualidade (pseudodiferenciados). Já o grau de fusão das mulheres, em geral, é alto, ou seja, há uma perda da individualidade, confunde-se, portanto a fusão com a intimidade (pseudointimidade).
Leifert apud Bowen (1991), discorre que quanto mais baixo é o nível de diferenciação, mais forte é o apego emocional não-resolvido em relação aos próprios pais e mais profundo são os mecanismos de defesa para controlar a indiferenciação, por outro lado, indivíduos com nível mais elevado de diferenciação conseguem separar sentimento de pensamento e são preparados para vivenciar emoções fortes e de espontaneidade, mas também de contenção e objetividade, que vem junto com a capacidade de suportar aos impulsos.
Conforme relata Otto e Ribeiro (2020), a diferenciação do self , diz respeito à habilidade de autorregular as emoções e assim viver sua individuação sem deixar de pertencer ao sistema familiar, ou seja, considera o grau que o indivíduo constrói de forma adaptativa ao pertencimento e à individuação nas relações interpessoais e gera um equilíbrio no desenvolvimento dos sistemas emocional e intelectual.
Rogers (2001) narra que a pessoa quando vive no interior dos seus sentimentos, conhecendo-o com uma confiança fundamental neles e aceitando-os, passa a apreciar a plenitude na diferenciação dos sentimentos e das significações pessoais da sua experiência.
O autor continua relatando que a pessoa desenvolve uma consciência de si mesmo, mas não como de um objeto, porém, uma consciência reflexiva, uma vida subjetiva da sua pessoa em movimento. Percebe-se responsável pelos seus problemas e em relação à sua vida em todos os seus aspectos em movimento.
Osório e Valle (2009) contribuem discorrendo a importância no processo terapêutico do casal, considerando o espaço de confiança do setting terapêutico, o trabalho de desestabilizar os estereótipos criados pelo casal ao longo de sua relação e assim estimular os cônjuges a reinventarem outras modalidades de se comportar em sua vida cotidiana como casal.
Portanto, esse espaço de equilíbrio a ser construído pelo casal permite a possibilidade de crescimento pessoal e relacional, conforme relata Rosset (2016, p. 107):
Outro aspecto importante no espaço do casal, é o ligado à possibilidade de crescimento que a relação permite. Dois parceiros nunca correspondem, nem satisfazem completamente um ao outro. Cada um deles construirá a realidade de modo diferente, compreendendo os fatos, vendo as situações, avaliando com olhos diferentes. Será determinante para a qualidade e possibilidade da relação, se essas construções pessoais são ou não compatíveis entre si.
Corroborando com a narrativa de Rosset; o psicólogo, psiquiatra e psicanalista britânico, pioneiro na teoria do apego, Bowlby (1989 p. 127) relata que:
"Para que a relação entre dois indivíduos prossiga harmoniosamente, cada um deve estar ciente dos pontos de vista, objetivos, sentimento e intenções do outro e cada um deve ajustar seu próprio comportamento de forma que alguma aliança objetivos seja alcançada. Isto requer que cada um possua modelos de si e do outro razoavelmente aprimorados e que sejam regularmente atualizados pela comunicação livre entre eles".
Nesse sentido, Rosset (2016) também narra que uma relação não vai evoluir se não houver conversa, porém, é importante compreender que conversa é uma maneira de circulação da relação e que certos parâmetros e cuidados devem ser mantidos para que essa conversa seja funcional e que não caia em uma inadequada briga. Sobre a metacomunicação, Rosset (2016, p. 69) diz:
É uma conversa sobre os sentimentos vividos durante a briga, sobre a confusão entre as palavras (o que significa para cada um, que uso fazem), sobre como eles desencadeiam as brigas e as formas de evita-las. Para que a metacomunicação realmente funcione, ambos os participantes precisam ter: a mesma disponibilidade; o mesmo nível hierárquico; a mesma possibilidade e o coração aberto.
Portanto, se comunicar de maneira assertiva não é uma tarefa fácil, porém, quando se consegue evoluir nessa área, há muitas melhoras na relação.
Referências:
BOWLBY, J. Uma base segura: aplicação clínica da teoria do apego. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
CARTER, B.; MCGOLDRICK, M. As Mudanças no Ciclo de Vida Familiar - Uma Estrutura para a Terapia Familiar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
LEIFERT, M. G. M. Os impactos da migração para a família: uma temática contemporânea. In: OSÓRIO, Luiz C; VALLE, Maria Elizabeth P. Manual de Terapia Familiar. Porto Alegre: Artes Médicas, 2009.
OSÓRIO, L. C; VALLE, M. E. P. Manual de Terapia Familiar. Porto Alegre: Artes Médicas, 2009.
OTTO, A. F. N.; RIBEIRO, M. A. Contribuições de Murray Bowen à terapia familiar sistêmica. Pensando fam., Porto Alegre , v. 24, n. 1, p. 79-95, jun. 2020. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-494X2020000100007&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 17 jul. 2021.
ROGERS, C. Tornar-se Pessoa. 5ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
ROSSET, S. M. Brigas na família e no casal. Belo Horizonte: Artesã, 2016.
SEMENSATO, M. R.; BOSA, C. A. O script de apego compartilhado no casal. Arq. bras. psicol., Rio de Janeiro , v. 65, n. 1, p. 138-151, jun. 2013. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-52672013000100010&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 28 mar. 2021.
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